Havia ainda um outro tipo de trabalho que eu adorava, aquele desenvolvido nas casas de farinha. As chamadas farinhadas aconteciam nos meses de agosto e setembro. Enquanto descascávamos e ralávamos mandioca, muitas histórias escutávamos e muitas brincadeiras também aconteciam. Era uma festa.
Na safra do ano de 1972, quando eu e minha filha de seis anos íamos para a casa de farinha, fomos surpreendidas por algumas vacas no meio do caminho. Ao caminharmos, uma delas veio repentinamente em nossa direção. Gritei desesperada:
- Valha-me, Deus!! Corra, filha.
Corri e subi em uma oiticica. Mas minha filha, coitadinha, não teve a mesma sorte, ficou correndo ao redor de uma árvore e a vaca atrás. Depois de cansar a criança, acertou-lhe a cabeça e derrubou-a no chão. Minha filha não chorava, não gritava, nada fazia. Parecia estar morta e o bicho continuava com as patas nas coxas da menina, urrando sem parar. Para completar o quadro, as outras vacas vieram rodear a garota. Naquele momento, a angústia invadiu meu coração e um choro desesperado tomou conta de mim.
Desci sem muita esperança de reanimar minha filha. Nessa hora, a vaca enraivada veio de encontro a mim com aqueles chifres em minha direção. “Era o meu fim”, pensei por um instante. Percebi, então, que a vaca havia enfiado os chifres apenas no meu vestido frouxo e saiu me arrastando pelo matagal até uma cacimba.
Gritava muito pedindo a ajuda que parecia não vir nunca mais. Até que meu marido escutou os urros do gado e saiu correndo acompanhado por seu cachorro que rapidamente ganhou distância e ao me ver fez com que a vaca me soltasse e logo depois espantou aquelas que rodeavam minha filha. Alguns minutos depois, a garota se reanimou, meus nervos se acalmaram e continuamos nossa viagem para a farinhada.
Naquela noite, a história da vaca que nos atacou fez muito sucesso. Todos quiseram saber os mínimos detalhes, que contei repetidamente até terminarmos os trabalhos daquele dia. Todos os santos do céu ouviram os agradecimentos daquele povo por nossas vidas terem sido preservadas.
Texto baseado na entrevista com Maria Valdeniza de Araújo, 67 anos,
moradora do Sítio Canto, distrito de Russas.
Muito interessante a história dessa mulher, uma história de luta e muita batalha...
ResponderExcluiressa historia foi bem emocionante...alem de tudo foi um fato marcante na vida dessa pessoa.que até hoje,quando ela recorda a sua vontade é de chorar.pode ter sido uma historia engraçada mais que ao mesmo tempo foi trágica.a nossa vida e cheia de altos e baixos que de alguma maneira
ResponderExcluirmodificam nossa vida ou enfluenciam-nos para um caminho diferente do qual iamos seguir.
Roberta Luana 2º "E"