PROJETO CONTA QUE EU CONTO

O projeto “Conta que eu conto” busca aproximar os estudantes do texto literário, em especial memórias literárias, a fim de explorar, além das características do gênero, outras possibilidades tais como a emoção, a criatividade, a intuição, as sensações, o aspecto lúdico e interativo. Além disso, propõe o encontro entre os jovens e destes com outras gerações para ouvir dos mais velhos histórias de vida, culturais ou sociais. Estas podem constituir um importante acervo de memórias e proporcionar aos jovens o resgate de sua identidade cultural bem como a percepção de que o tempo presente, momento sócio-histórico no qual nos situamos, é fruto dos caminhos e percalços do passado. Em outras palavras, conhecer “nossas” histórias significa conhecer a nós mesmos.

Uma outra possibilidade surge neste ponto: a percepção do valor do idoso em nossa sociedade. Uma sociedade que oprime a velhice de múltiplas formas e se apega exageradamente ao moderno e ao que é de consumo. Sufoca as lembranças e desmerece a função social do idoso, fonte de onde jorra a essência da cultura. (CHAUÍ in BOSI: 1994, p. 18)

Perceber jovens tocados ou seduzidos pelas narrativas e personagens das histórias significará uma importante conquista do Colégio Estadual Governador Flávio Marcílio na formação de leitores e de sujeitos mais sensíveis e portadores de múltiplas referências culturais e afetivas.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

PRODUÇÃO TEXTUAL - MEMÓRIAS DE MARIA ZUÍLA

O CHÁ DA CEBOLINHA BRANCA


Desde que me casei aos treze anos fui morar numa casa de taipa na comunidade de Bom Sucesso, em Russas. Só havia a minha casa e uma outra um pouco mais à frente. Ali tudo era mato, mas eu gostava muito porque podia cultivar a terra, criar animais e ainda fazer minhas tranças de palha de carnaúba e minhas louças de barro. Ah, essas últimas me davam um bom lucro. Vendíamos nosso artesanato na feira que era conhecida como “feira das tauba” e também para outras cidades. Com o apurado fui aos poucos comprando pedaços de terra para garantir o futuro dos meus filhos.

Ali também sofri muito. O trabalho era árduo e ainda tinha que cuidar de muitos filhos. Tive vinte, alguns se criaram, outros perdi. Naquela época, tudo era muito simples, tínhamos nossas crianças em casa e as parteiras nos ajudavam como podiam. Tive dois filhos que nasceram “de pé”, mas conseguiram com muito sufoco nascer com vida.

Um episódio daquele tempo me marcou muito. Estava grávida de oito meses e fui procurar meu marido que não era muito bom para mim. No caminho de volta para casa, um cachorro correu atrás de mim e, para me livrar dele, tive que correr me esforçando mais do que podia. O resultado não foi nada bom. A parto foi adiantado e a criança nasceu muito mole e sem chorar. Sem esperança de que ela fosse se criar, saí desesperada para a beira do rio e pedi a Deus que me ajudasse.

Ali, à margem do rio, debaixo do sol quente, senti um toque. Algo me dizia que eu devia fazer o chá da cebolinha branca e dar para meu filho recém-nascido. Assim o fiz. Naquele tempo, era comum darmos chá para as crianças e o chá da cebolinha branca era muito conhecido. Pouco tempo depois que meu filhinho tomou o chá, um choro forte foi ouvido por todos que estavam em minha casa e a alegria tomou conta de nós.

Depois desse parto ainda tive outros filhos e hoje me sinto feliz por tê-los criado e eles terem me dado netos bonitos e saudáveis. Estes moram perto de minha casa, nas terras que comprei com o fruto do meu suor.


Maria de Fátima , 2º A

Texto baseado na entrevista com Dona Maria Zuíla da Silva, 70 anos,

agricultora e artesã, moradora da comunidade de Bom Sucesso, Russas.

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