PROJETO CONTA QUE EU CONTO

O projeto “Conta que eu conto” busca aproximar os estudantes do texto literário, em especial memórias literárias, a fim de explorar, além das características do gênero, outras possibilidades tais como a emoção, a criatividade, a intuição, as sensações, o aspecto lúdico e interativo. Além disso, propõe o encontro entre os jovens e destes com outras gerações para ouvir dos mais velhos histórias de vida, culturais ou sociais. Estas podem constituir um importante acervo de memórias e proporcionar aos jovens o resgate de sua identidade cultural bem como a percepção de que o tempo presente, momento sócio-histórico no qual nos situamos, é fruto dos caminhos e percalços do passado. Em outras palavras, conhecer “nossas” histórias significa conhecer a nós mesmos.

Uma outra possibilidade surge neste ponto: a percepção do valor do idoso em nossa sociedade. Uma sociedade que oprime a velhice de múltiplas formas e se apega exageradamente ao moderno e ao que é de consumo. Sufoca as lembranças e desmerece a função social do idoso, fonte de onde jorra a essência da cultura. (CHAUÍ in BOSI: 1994, p. 18)

Perceber jovens tocados ou seduzidos pelas narrativas e personagens das histórias significará uma importante conquista do Colégio Estadual Governador Flávio Marcílio na formação de leitores e de sujeitos mais sensíveis e portadores de múltiplas referências culturais e afetivas.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

PRODUÇÃO TEXTUAL - MEMÓRIAS DE DONA GLÓRIA BANDEIRA

AS PRIMEIRAS SÉRIES NA ESCOLA PADRE MARCONDES


Aos sete anos comecei a estudar. Naquele tempo, iniciávamos a caminhada escolar logo na alfabetização. Lembro-me bastante das minhas queridas professoras, assim como me recordo da professora da terceira série considerada malvada. Nunca tinha sido sua aluna, mas acreditava piamente naquilo, e por isso repeti dois anos a segunda série para não ter que enfrentá-la.

Chorei, chorei muito para não passar para a série seguinte e ficar com minha amiga do peito que se chamava Helena. Era uma garota adorável e até hoje me identifico com seu jeito espontâneo de ser, alegre e extrovertido.

Hoje não entendo como aquele episódio de repetir a segunda série pode acontecer, mas aconteceu. Ideias de criança são realmente engraçadas. Um dia eu teria mesmo que passar para a série seguinte, mas não compreendia isso. Talvez tivesse sido melhor que o tempo tivesse estacionado ali com minha infância povoada de sonhos e com amigas que cultivavam uma amizade tão pura e fiel.

As carteiras naquela época eram constituídas de dois assentos e sempre sentávamos Helena e eu. Era comum não deixar outra pessoa sentar perto de mim. Se alguém ensaiasse tal coisa, já era motivo para confusão, mas nada comparado às brigas que hoje vemos em algumas escolas. Nesse tempo, não existia direção na escola onde estudava, no entanto os alunos não bagunçavam nem desrespeitavam os professores.

Era magnífico cantar o Hino Nacional nas quartas-feiras. Todos nas filas e bem organizados mostrávamos respeito à pátria. Orgulhava-me muito de ter uma escola, apesar da minha ser pequena, com apenas duas salas de aula e dois banheiros. Ela foi construída com a ajuda do Padre Marcondes, por isso a escola recebeu seu nome como forma de homenageá-lo.

Como não podia passar a vida inteira na segunda série, passei finalmente para a terceira. Que sorte eu tive! Uma nova professora assumiu essa série e então me enchi de vontade de conhecê-la. Por motivos pessoais ela não concluiu o ano letivo, e em seu posto ficou a D. Luzirene, uma mulher de fibra, mas muito meiga e carinhosa por quem me apaixonei.

A Escola Padre Marcondes cresceu com o passar dos anos e hoje existe um novo colégio na comunidade de Jardim de São José (Russas). O prédio antigo, que muitas lembranças me traz, ainda existe e planeja-se funcionarem no local alguns projetos educacionais. Atualmente ensino as crianças da creche e realizo meu trabalho com muito amor e dedicação, procurando algumas vezes entender os pequeninos de acordo com as minhas saudosas experiências infantis.


Glória Angélica Bandeira Chaves, aluna do 3º E.

Texto escrito com base na entrevista com

Maria Glória Bandeira, 44 anos,

moradora do Jardim de São José, distrito de Russas



3 comentários:

  1. Parabéns pelo conteúdo do texto, pois, é muito interessante resgatar as memórias!
    É muito engraçado: Passar dois anos repetindo a mesma série para não estudar com a "Professora Malvada"
    Muuuito boom!
    ;P

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  2. Entrevistar minha mãe foi algo extraordinário, ela se expressa tão bem, que dá vontade de passar o dia todinho perguntando coisas daquela época. Maravilhoso. Amei

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  3. E muito bom saber das coisas daqula epoca!

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