AS PRIMEIRAS SÉRIES NA ESCOLA PADRE MARCONDES
Aos sete anos comecei a estudar. Naquele tempo, iniciávamos a caminhada escolar logo na alfabetização. Lembro-me bastante das minhas queridas professoras, assim como me recordo da professora da terceira série considerada malvada. Nunca tinha sido sua aluna, mas acreditava piamente naquilo, e por isso repeti dois anos a segunda série para não ter que enfrentá-la.
Chorei, chorei muito para não passar para a série seguinte e ficar com minha amiga do peito que se chamava Helena. Era uma garota adorável e até hoje me identifico com seu jeito espontâneo de ser, alegre e extrovertido.
Hoje não entendo como aquele episódio de repetir a segunda série pode acontecer, mas aconteceu. Ideias de criança são realmente engraçadas. Um dia eu teria mesmo que passar para a série seguinte, mas não compreendia isso. Talvez tivesse sido melhor que o tempo tivesse estacionado ali com minha infância povoada de sonhos e com amigas que cultivavam uma amizade tão pura e fiel.
As carteiras naquela época eram constituídas de dois assentos e sempre sentávamos Helena e eu. Era comum não deixar outra pessoa sentar perto de mim. Se alguém ensaiasse tal coisa, já era motivo para confusão, mas nada comparado às brigas que hoje vemos em algumas escolas. Nesse tempo, não existia direção na escola onde estudava, no entanto os alunos não bagunçavam nem desrespeitavam os professores.
Era magnífico cantar o Hino Nacional nas quartas-feiras. Todos nas filas e bem organizados mostrávamos respeito à pátria. Orgulhava-me muito de ter uma escola, apesar da minha ser pequena, com apenas duas salas de aula e dois banheiros. Ela foi construída com a ajuda do Padre Marcondes, por isso a escola recebeu seu nome como forma de homenageá-lo.
Como não podia passar a vida inteira na segunda série, passei finalmente para a terceira. Que sorte eu tive! Uma nova professora assumiu essa série e então me enchi de vontade de conhecê-la. Por motivos pessoais ela não concluiu o ano letivo, e em seu posto ficou a D. Luzirene, uma mulher de fibra, mas muito meiga e carinhosa por quem me apaixonei.
A Escola Padre Marcondes cresceu com o passar dos anos e hoje existe um novo colégio na comunidade de Jardim de São José (Russas). O prédio antigo, que muitas lembranças me traz, ainda existe e planeja-se funcionarem no local alguns projetos educacionais. Atualmente ensino as crianças da creche e realizo meu trabalho com muito amor e dedicação, procurando algumas vezes entender os pequeninos de acordo com as minhas saudosas experiências infantis.
Glória Angélica Bandeira Chaves, aluna do 3º E.
Texto escrito com base na entrevista com
Maria Glória Bandeira, 44 anos,
moradora do Jardim de São José, distrito de Russas
Parabéns pelo conteúdo do texto, pois, é muito interessante resgatar as memórias!
ResponderExcluirÉ muito engraçado: Passar dois anos repetindo a mesma série para não estudar com a "Professora Malvada"
Muuuito boom!
;P
Entrevistar minha mãe foi algo extraordinário, ela se expressa tão bem, que dá vontade de passar o dia todinho perguntando coisas daquela época. Maravilhoso. Amei
ResponderExcluirE muito bom saber das coisas daqula epoca!
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