PROJETO CONTA QUE EU CONTO

O projeto “Conta que eu conto” busca aproximar os estudantes do texto literário, em especial memórias literárias, a fim de explorar, além das características do gênero, outras possibilidades tais como a emoção, a criatividade, a intuição, as sensações, o aspecto lúdico e interativo. Além disso, propõe o encontro entre os jovens e destes com outras gerações para ouvir dos mais velhos histórias de vida, culturais ou sociais. Estas podem constituir um importante acervo de memórias e proporcionar aos jovens o resgate de sua identidade cultural bem como a percepção de que o tempo presente, momento sócio-histórico no qual nos situamos, é fruto dos caminhos e percalços do passado. Em outras palavras, conhecer “nossas” histórias significa conhecer a nós mesmos.

Uma outra possibilidade surge neste ponto: a percepção do valor do idoso em nossa sociedade. Uma sociedade que oprime a velhice de múltiplas formas e se apega exageradamente ao moderno e ao que é de consumo. Sufoca as lembranças e desmerece a função social do idoso, fonte de onde jorra a essência da cultura. (CHAUÍ in BOSI: 1994, p. 18)

Perceber jovens tocados ou seduzidos pelas narrativas e personagens das histórias significará uma importante conquista do Colégio Estadual Governador Flávio Marcílio na formação de leitores e de sujeitos mais sensíveis e portadores de múltiplas referências culturais e afetivas.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

PRODUÇÃO TEXTUAL - MEMÓRIAS DE ALFREDO NETO


A TERRA QUE SONHEI


Casei em outubro de 1956 com uma linda jovem e com ela vim conhecer Russas, cidade que considerava uma boa opção para morar. Então, cinco anos depois, minha esposa e eu decidimos nos mudar para essa cidade. Aqui construí minha família composta por seis filhos dos quais me orgulho e por quem tudo faço para vê-los feliz.

Ao chegar na cidade, comprei um prédio antigo que derrubei e reconstruí desde o primeiro tijolo. Nele moramos e tivemos nossos primeiros filhos. Na época, vendia queijo e peixe para sustentar a minha família. As feiras eram muito animadas no mercado velho, mas não me sentia feliz com aquele trabalho. Meu sonho era morar numa fazenda e cultivar a terra.

Finalmente, depois de quatro anos, consegui realizar meu desejo. Comprei um pequeno terreno na comunidade do Peixe. Por volta de 1967, aquela comunidade era apenas uma pequena vila, mas lá eu podia acordar com o som dos pássaros, calçar minhas alpergatas e balançar-me em uma rede. Que bom lembrar!!

Passado algum tempo, consegui comprar mais terras e aumentar minha produção plantando milho, feijão, algodão e mandioca. Tais produtos oferecia às comunidades vizinhas de Lagoa dos Cavalos, Bananeiras e Cipó. Por volta de 1970 comecei a trabalhar com o caju o que rendeu um bom dinheiro.

Lembro-me bem que onde havia apenas terras abandonadas, hoje é todo o meu patrimônio. Aquela terra sempre produziu frutos muito gostosos. A castanha do caju, tão apreciada, era vendida rapidamente.

Hoje, possuo cerca de cento e quarenta hectares de terra produzindo caju e me orgulho do que construí. Por outro lado, sinto-me triste por, mais cedo ou mais tarde, ter que abrir mão de tudo isso que consegui com tanto esforço por causa de um projeto do DNOCS que já se iniciou: a implantação da monocultura nessa região.



Fabrícia Kélvia da Silva Amorim, 1ºA.

Texto baseado na entrevista com Alfredo Neto, 74 anos,

morador da comunidade de Lagoa do Peixe.


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