PROJETO CONTA QUE EU CONTO

O projeto “Conta que eu conto” busca aproximar os estudantes do texto literário, em especial memórias literárias, a fim de explorar, além das características do gênero, outras possibilidades tais como a emoção, a criatividade, a intuição, as sensações, o aspecto lúdico e interativo. Além disso, propõe o encontro entre os jovens e destes com outras gerações para ouvir dos mais velhos histórias de vida, culturais ou sociais. Estas podem constituir um importante acervo de memórias e proporcionar aos jovens o resgate de sua identidade cultural bem como a percepção de que o tempo presente, momento sócio-histórico no qual nos situamos, é fruto dos caminhos e percalços do passado. Em outras palavras, conhecer “nossas” histórias significa conhecer a nós mesmos.

Uma outra possibilidade surge neste ponto: a percepção do valor do idoso em nossa sociedade. Uma sociedade que oprime a velhice de múltiplas formas e se apega exageradamente ao moderno e ao que é de consumo. Sufoca as lembranças e desmerece a função social do idoso, fonte de onde jorra a essência da cultura. (CHAUÍ in BOSI: 1994, p. 18)

Perceber jovens tocados ou seduzidos pelas narrativas e personagens das histórias significará uma importante conquista do Colégio Estadual Governador Flávio Marcílio na formação de leitores e de sujeitos mais sensíveis e portadores de múltiplas referências culturais e afetivas.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

PRODUÇÃO TEXTUAL - MEMÓRIAS DE DONA LOURDES RAMALHO



PHARMACIA RAMALHO


A PHARMACIA DO MEU PAI


Há cerca de 80 anos, tudo era muito precário na minha querida Russas, inclusive o acesso à saúde. Se hoje achamos que as coisas não vão bem nessa área, imagine naqueles dias quando não havia postos de saúde como há hoje nem médicos de plantão no hospital para uma emergência. No que diz respeito às farmácias, havia poucas por aqui e entre elas estava a “pharmácia” do meu pai, a única a ter farmacêutico especializado, formado na Faculdade do Rio de Janeiro, o Senhor José Ramalho. Meu pai era muito bonito, charmoso e realizava seu trabalho com muita competência. Porém havia bastante trabalho e ele precisava de alguém para ajudá-lo. Percebendo que eu levava jeito para o negócio e sendo eu a filha mais velha, convenceu-me a trabalhar ao seu lado.

Para mim aquela decisão foi inicialmente terrível, pois meu grande sonho era estudar. Passei dias e noites pensando e cheguei até a chorar várias vezes por ter que abrir mão dos estudos. Como não tinha outra saída, aos 15 anos iniciei meus trabalhos ao lado do meu pai que foi meu primeiro e maior professor nesse ramo.

Trabalhar na “pharmácia” exigiu de mim muitas renúncias. As tarefas eram constantes e o tempo para o lazer era muito reduzido. Naquela época, não havia postos de saúde nem hospital como existem hoje. Os médicos eram escassos e as pessoas tentavam resolver seus problemas de saúde com o farmacêutico. Tentávamos sempre fazer o melhor pelas pessoas que nos procuravam para remediar os mais diferentes tipos de enfermidades. Havia aquelas que realmente chegavam a me arrepiar. Lembro bem que minha mãe adorava me elogiar por causa do trabalho e eu ficava enrubecida. Achava que não tinha tanta competência para isso. Procurava sempre dar o melhor de mim.

Não posso esquecer que, além desse trabalho por vezes cansativo, sempre reservava um tempo para as tarefas religiosas. Dentre elas, sempre gostei de orientar os pequeninos no catecismo e ainda tinha um lugar no coral. Na época, cantávamos no coro, lá no alto da igreja matriz. Ah, como eu adorava cantar! Sentir-me parte daquele coro e ouvir nossas vozes ressoarem num latim vibrante, enchia minha alma de calor. Era simplesmente lindo.

Já experiente no meu ofício, senti-me sem chão com o falecimento do meu querido pai. Mesmo com o baque, tive que encontrar forças para dar continuidade ao que ele construíra com muita dedicação. Tive, então, que fazer um curso na capital para poder tomar a frente da “pharmácia”. Minha irmã Dolores e eu concluímos na mesma turma e trabalhamos para que a fonte de renda de nossa família permanecesse de pé.

Hoje, esse prédio que é a nossa “pharmácia”, ainda tem o cheiro daqueles primeiros dias de muito trabalho e também de satisfação. A fachada e a mobília são conservadas, diferente das modernas farmácias que estão chegando a nossa cidade. E eu continuo atendendo, não como antes, mas sempre que alguém me procura, atendo com presteza. Sinto-me muito feliz quando recebo pessoas a quem já ajudei e delas recebo aquele abraço caloroso. Muitas ficam espantadas por, no auge dos meus 95 anos, ainda estar lúcida e ativa. É muito bom poder ajudar. Isso enche o nosso coração de um sentimento bom e nos faz muito felizes.




Dona Lourdes Ramalho no centro
e alguns alunos participantes do projeto.



Leiriara da Costa Sousa, aluna do 2º E.

Texto escrito com base na entrevista com

Maria de Lourdes Ramalho de Alarcon e Santiago,

95 anos, responsável pela Pharmácia Ramalho,

moradora da cidade de Russas desde que nasceu.


3 comentários:

  1. tudo o que era guardado á chave permanecia novo por mais tempo.mas meu proposito naõ era conservaro novo,e sim renovar o velho.
    Leiriara sousa
    2º "E"

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  2. Uma historia de uma mulher encrivel...que desde de cedo começou a trabalhar.otima historia de vida.
    Roberta Luana 2º "E"

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  3. Me enchie de felicidade, ao ouvir a Dona de Lourdes relatar os fatos passados da sua vida, foi emocionante.

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